terça-feira, 16 de junho de 2015

Entrevista com Nenê Altro : O fim da dança dos dias?

Como muitos já sabem, o Dance of Days anunciou uma pausa que talvez seja definitiva. Troquei uma ideia com o Nenê, que tocou em pontos chave como a saída de integrantes, redes sociais e seus malefícios e o cancelamento de alguns shows. Confiram! 
Por Luís Perossi

1- O anúncio do hiato do Dance of Days, ao menos para mim, foi uma triste surpresa. Esta decisão foi pessoal ou foi de comum acordo entre os remanescentes até então da banda? O quê exatamente motivou esta parada, haja vista que a banda parecia estar a mil, lançando 4 eps e em vias de lançar o full album pela HBB?


Nenê AltroEntão Luis, não era algo planejado mesmo, mas aconteceu. Parar um tempo às vezes é bom, faz ver as coisas sem tanta pressão e com mais calma. Enfim, uma banda é um relacionamento, e para um bom relacionamento existir é necessário química, harmonia, e isso não estava acontecendo internamente na banda desde o final do ano passado. Quando não há harmonia o desgaste é inevitável. É basicamente como quando um casamento acaba virando apenas amizade, não há ódio, raiva, mas o algo a mais se perdeu, e sem esse algo a mais não há calor, não há emoção e isso sempre foi fundamental pra mim. A decisão foi minha, mas foi algo que já estava borbulhando em nosso convívio. Eu só comentei e todos acharam ser a melhor coisa mesmo a se fazer. Logo após a decisão do hiato o Fausto decidiu sair da banda. E foi assim. Mas gostaria de lembrar que essa não é a primeira vez que o Dance of Days entrou em hiato, isso já aconteceu entre 1998 e 1999, que foi a época onde eu tive as bandas Bastard In Love e Awkward.

2- Houveram muitas informações desencontradas e especulações nas redes sociais desde a saída do Tyello, até as mais recentes, como a do Samuel. O Fausto também anunciou a saída da banda. Qual a sua posição perante esta saída de membros e qual sua relação com eles hoje em dia? 

Nenê AltroEu acho que você tocou num ponto chave que define todos esses problemas: redes sociais. O Dance of Days  vem de outra escola e de uma época antes das redes sociais aparecerem, acho que por isso não temos um bom relacionamento nelas ou as pessoas sentem que deixamos muitas coisas desencontradas. Somos da época da carta, dos cartazes nas ruas, das conversas nos shows, telefonemas, etc. Desde que a internet surgiu sempre tivemos dificuldade em lidar com isso, seja no Mirc, Fotolog, nas comunidades do Orkut, e agora com o Facebook e as outras. E como muita gente já nasceu inserida nisso tudo deve ser realmente difícil entender que qualquer outra pessoa no planeta não tenha essa ligação com as redes. Por exemplo, em 1997 o Fernando saiu da banda e ficou só no Againe, o Leandro entrou e ninguém nem comentou ou deu opinião. E muitas formações depois, não muito longe e já no começo da net, quando o Junior, que gravou o A História Não Tem Fim, saiu e o Fausto entrou, nada foi uma grande notícia. O fato é que hoje as redes sociais mudaram as relações humanas e eu não sei até que ponto isso é saudável, todo mundo meio que se sente obrigado a dar uma opinião, mesmo quando as pessoas não pedem ou quando não lhes diz respeito, todo mundo é crítico, é formador de opinião, eu não sei, pelo menos pra mim isso tudo ainda é muito confuso. Enfim, o Tyello saiu em 2012, já com algum desgaste de estrada, pessoal, e optou por cuidar de seu estúdio e tocar sua vida. Já nos encontramos algumas vezes, não temos briga mas não somos mais tão próximos. O Samuel e eu tivemos um desentendimento pessoal no final do ano passado e nossas diferenças levaram a ruptura no início desse ano. Minhas lembranças dele são as boas, de antes disso tudo, sempre nos demos bem musicalmente em gostos, não tínhamos muitos problemas. Mas hoje não somos mais amigos. Acontece gente, as pessoas são diferentes, tem vontades e escolhas diferentes e às vezes entram em conflito, é a vida. O Fausto já não estava confortável desde a saída do Samuel. Ainda tentou alguns meses, se animou, mas com os desgastes mais recentes, após o anúncio do hiato me ligou e disse que se a banda voltasse ele não voltaria. Diferente do que estão dizendo por aí não brigamos nem estamos brigados, só chegou a hora de seguirmos rumos diferentes.

3- A banda tocou em Osasco recentemente, logo após o anúncio do hiato. Vi um pequeno trecho em um vídeo, onde você dizia que está " se sentindo cada vez mais morto". Logo em seguida rolou "Um Canto para caronte". Deu pra perceber que a atmosfera desse show foi pesada e deve ter sido um momento difícil pra você. Gostaria de falar sobre isso? Você não se sente mais feliz à frente da Dança dos Dias?

Nenê Altro Tudo no Dance of Days é pessoal. Cada palavra, cada frase, cada emoção que coloquei nas músicas. Por isso cantar algumas em certos momentos é difícil. Caronte fala sobre morte, é um “canto para o barqueiro” como seu próprio nome diz, a canção fala sobre repensar sua vida, suas escolhas e aceitar as fatalidades. Minha banda está passando por algo difícil e isso me atinge diretamente, pois não sou um personagem, não sou um ator, tudo ali é sobre mim. O show foi difícil porque a banda não está bem, passei por muitas situações ruins nos últimos meses e tudo estava envolvido com a banda e com as redes sociais, e isso se arrasta há tempos, por isso eu disse que “me sinto cada vez mais morto”, perdendo sempre algo de mim. E numa banda era pra eu me sentir de qualquer outra maneira menos essa, uma banda é pra dar prazer, felicidade, bons momentos, e não é o que tem rolado. Pra você ver como isso vem de antes, no último ep eu disse isso claramente na música “Acontece Agora (A Carta De Adeus Do Garoto Unabomber). Aliás, acho que quem quiser entender realmente tudo que aconteceu nos últimos anos deve ler as letras dos quatro eps e relacioná-las ao que acontecia em cada período. Tudo sempre foi muito confessional, até porque não sei ser de outra forma.

“As pessoas são estranhas.
Às vezes quero distância.
Eu não sou daqui, tenho certeza,
e sabe, cansei tanto de falar,
tentar e insistir.

Tão fechado e tão externo,
um corpo d'água no inferno,
perco sempre algo de mim.
Essa gente não me quer,
e eu não tenho nada a ver
com mais ninguém que vive por aqui.

Então tudo bem, não há mais segredo,
eu vou ficar bem, espero que faça o mesmo.
Que eu não posso ter nem mais um segundo
onde tudo me faz mal, onde nada faz sentido pra mim.

Não é nada pessoal — às vezes.
Até consigo sentar e sorrir
e jogar conversa fora,
mas eu sempre penso em ir embora
e em sumir dessa gente que maltrata,
não aprende e nunca para de falar e de mentir.

Sinto muito, eu vou viver
o meu mundo sem você.
E nada mais, nada mais vai me ferir.

Então tudo bem, não há mais segredo,
eu vou ficar bem, espero que faça o mesmo.
Que eu não posso ter nem mais um segundo
onde tudo me faz mal, onde nada faz sentido pra mim.

E aqui se proclama o mantra da estrada:
O que era já se foi, a vida acontece agora.
E o que será é distante demais, a vida acontece agora.”

4- E sobre o cancelamento das datas já marcadas, o que você gostaria de dizer ao público que iria comparecer aos shows?

Nenê AltroPeço desculpas. Eu realmente pensei que seria possível fazer, até antes do show de Osasco estávamos divulgando as datas, chamando as pessoas, mas sou um ser humano, tenho meus limites e sentimentos, e não consigo passar pelo que passei naquele show novamente. Na verdade acho que é mais honesto de minha parte fazer isso, pois, como eu acabei de dizer, eu não sou um ator. Sei que sou uma pessoa difícil às vezes, principalmente quando estou criando, sou genioso, impulsivo, mas eu sou o que sou, vai das pessoas gostarem ou não. Subir num palco e fingir que está tudo bem seria desonesto comigo e com o público.

5- O show no Oxigênio Fest, ao lado do Dead Fish, Garage Fuzz, Hateen , Zander e Fistt,não foi desmarcado. Ele será mesmo o último do Dance of Days antes da pausa? O que você pretende fazer enquanto o Dance of Days hiberna? Novos projetos? Livros? Bandas? O que esperar de Nenê Altro no contexto atual?

Nenê AltroSerá o último show dessa fase do Dance of Days que começou no A História Não Tem Fim. Não foi cancelado porque eu realmente quero dar um adeus a todas as pessoas que me apoiaram nos últimos anos, compareceram aos shows, usaram camisetas, compraram meus discos. Não escolhemos entre um ou outro pra cancelar, esse simplesmente era o mais próximo e precisamos parar mesmo e dar um tempo disso tudo. Eu pretendo dar o máximo de mim nesse show e fazer uma apresentação que honre todos esses anos de batalha. Eu não sei o que vai ser do futuro do Dance of Days, como você sabe a banda nasceu lá atrás em 1997 comigo tocando guitarra na madrugada sozinho em casa e depois chamando uns amigos pra fazer um projeto. Talvez a história não tenha fim, quem sabe? Mas essa fase do História até os eps acabou, se um dia porventura eu decidir voltar certamente será outra coisa, mas isso não está em meus planos. Estou cuidando da minha casa nova, de volta ao ABC paulista, mobiliando com minha esposa Nicolle, pintando as paredes, cuidando de nossos gatos, isso está sendo maravilhoso pra mim. Não há lugar como nosso lar, não é mesmo? Artisticamente, eu estou com uma nova banda chamada Nowhere Fast que será com certeza minha terapia nos próximos meses, mais pesada, um pouco na linha do 43 Segundos do Sick Terror mas com outros elementos, pra gritar e exorcizar mesmo, pois estou precisando. Queria escrever algo para esse ano, tenho alguns poemas já guardados, não sei ainda, preciso que esse hiato realmente comece pra ver o que vai acontecer.

6- Obrigado pela atenção e pela conversa, fique livre para acrescentar e falar algo que tenha faltado.

Nenê AltroMuito obrigado Luis pela oportunidade de explicar essas coisas. Eu não estou e NÃO SOU da internet, excluí há algum tempo meu perfil no facebook, tentei usar o twitter e não me senti bem, enfim, isso definitivamente não é pra mim. Se você quer me seguir, siga minha música, minhas palavras, textos, letras e poesias. Isso é o que é de verdade e é o que fica. O dia sempre amanhece e tudo sempre se transforma no universo, isso é uma das coisas mais mágicas da vida. Estarei sempre com vocês, em cada música gravada em seus corações. Muito obrigado mesmo, e muita força a todos, sempre.


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Violeta de Outono - Centro Cultural São Paulo - 06- 06- 2015

Lançando o DVD “Live at Rio Art Rock Festival ‘97”, o Violeta de Outono mostrou sua força lotando duas vezes o centro Cultural São Paulo, mais precisamente o teatro Jardel Filho. O show extra rolou na mesma noite, devido ao esgotamento dos ingressos.

De cara, a banda já emendou 'Reflexos da Noite' e ' Dia Eterno', canções que de certa forma, são sínteses do que é o Violeta de Outono, um rock visceral, virtuoso e viajante.

Formado atualmente por Fabio Golfetti - Guitarras e Vocal, Gabriel Costa - Baixo, Fernando Cardoso - Órgão Hammond, Pianos/Synth  e José Luiz Dinola - Bateria, a banda brindou a todos com uma apresentação hipnótica, carregada de psicodelia refletida no telão, na construção das canções, nos efeitos da guitarra de Golfetti ( perfeccionista ) e com hits de todas as fases da banda.
Inesquecível, principalmente para quem ainda nunca tinha visto a banda ao vivo!
E o melhor de tudo: um show do Violeta de Outono, em pleno outono, onde os "reflexos da noite" transmutavam-se em ondas sonoras "em toda a parte" num "eclipse" de "ilhas" e "espectros".
Por Luís Perossi