quarta-feira, 17 de abril de 2013

BANKSY GUERRA E SPRAY- a verdadeira arte está nas ruas...

  Houve um tempo em que a arte era algo restrito às elites. Aliás, houve um tempo em quem a arte seguia um padrão estético fincado nos parâmetros do classicismo Greco-romano. Parâmetros estes, retomados ferozmente pelos europeus renascentistas posteriormente.
   O elitismo, no qual me refiro, perdura até hoje, isto é fato. No entanto é inegável também que o acesso às artes mais clássicas e caras do universo é bem mais amplo e outros tipos de arte ( embora muitas vezes relegadas ao segundo plano e tidas como “inferiores” àquelas que permeiam grandes galerias) coexistem.
a arte de BANKSY

   Precisamente, me refiro ao graffitti,que enquanto arte sim, dividiu espaço com outras obras “clássicas” ou mais convencionais, digamos assim, mas que, muito embora seja hoje vista com uma visão mais aceitável perante setores da sociedade que outrora condenavam todo e qualquer grafite como “crime”, ainda é visto com certa desconfiança.
   A arte é pesada, e pode ser feita do povo, para o povo e alheio à elite. A arte é punk e underground, e pode ser exposta na maior galeria ao ar livre do universo: as ruas.
   A arte pode incitar mudanças, questionar leis injustas, dogmas e levar à reflexão. Tudo isso, o anônimo Banksy  faz como poucos. Tido como gênio para muitos e só mais um para tantos, a verdade que a incógnita sobre sua identidade real e sua arte que aponta o dedo na cara das autoridades, desafiando a tudo e a todos, ganhou projeções inimagináveis. É bem provável que até aquele moleque fã de funk proibidão ,que mora perto da sua goma e só usa internet pra marcar uma ponta com as gurias no batidão ,ouvir funk escroto e comprar camiseta hollister já deva ter ouvido falar do Banksy, ou já viu algum stencil do cara jogado na net com aquelas frases feitas de facebook.
   E temos que concordar, o talento e ousadia de Banksy, fazem jus ao hype em torno de seu nome, mas não fica preso a ele como uma moda descartável. Uma arte de cunho social e provocadora, como a que ele faz, deixará de legado o protesto, puro e simples, como aquele do movimento punk que resistiu modas, tendências e tudo mais. Movimento, aliás, que dialoga de maneira muito próxima com a arte de Banksy.
   O livro “Guerra e Spray”, da editora Intrínseca, oferece em mais de 200 páginas um apanhado dos trabalhos feitos por este ativista das latas de tintas. Da ironia ao Copyrigth logo ao abrirmos o livro, à analogia dos ratos ( talvez uma referência ao artista que o inspirou, Blek Le Rat), e a verdadeira face da hipocrisia exposta no stencil de um defensor da moral e bons costumes dando uma “cheirada” , este livro soa como um alerta e inspiração.
trabalhos de BLEK LE RAT, apontado como influencia de Banksy

   Afinal, “vocês podem rir agora, mas um dia, estaremos no comando”, diz um dos trechos do livro, que apresenta pequenos textos e histórias acerca das imagens e diversas fotos que constam na obra. Essencial para admiradores de arte, arte de rua, stencil, graffitti, punks, skatistas, movimento hip-hop e cabeças pensantes.
   BANKSY na minha concepção têm algo de boca do inferno (Gregório de Matos) ao satirizar aquilo que nos condicionaram “respeitar” e “aceitar” como verdades únicas, como autoridades inquestionáveis. BANKSY faz poesia maldita e pinta com simplicidade, aquilo que todos vemos, sabemos e fingimos não saber, porque pega mal.
“Quando chegar a hora de partir, apenas saia andando calmamente e não faça confusão”. (Banksy)