terça-feira, 11 de setembro de 2012

Entrevista com Nenê Altro do Dance of Days e Teenager in a box

Desde que comecei a fazer fanzines lá pelos idos dos anos 90, sempre tive vontade de entrevistar e trocar uma ideia para publicar em zines com duas pessoas. Uma foi o Redson do Cólera, até tentei por carta na época, mas acho que sequer chegou até ele.A Outra  é o Nenê. Segue na íntegra histórias curiosas como a treta da turnê gringa do Sick terror, o futuro do Dance of Days e curiosidades que só quem está há tanto tempo na estrada e tem bagagem do que é a essência do faça você mesmo pode compartilhar.


Dance of Days, época de "a história não tem fim"


1 – O Dance of Days sempre foi  uma banda que falou de visões pessoais e políticas, mas, ainda assim, muita gente teve e tem preconceito com o trabalho de vocês. Ao que você acha que isso se deve?
Nenê Altro –Em 2001 lançamos um disco em português, nadando contra toda a corrente de 90% das bandas de nossa geração. O disco abria com uma música contra homofobia chamada Se Essas Paredes Falassem e vendeu 18.000 cópias defendendo “um outro lugar onde marte ama marte e vênus possa passear de mãos dadas com vênus”. Esse foi um choque numa cena que, por mais que se afirmasse “moderna” ainda tinha muito de moralista e, principalmente, homofóbica. E nós abraçamos essa luta colocando a cara pra bater, de que a pessoa não tem que ser homossexual pra ser contra a homofobia, que pode ser branca e ser contra o racismo, que a luta contra o preconceito era e é uma luta de todos. E pensamos isso até hoje. Mas isso, na época, gerou o estigma entre a galera que se sentiu ofendida com essa postura. Mas enfrentamos. Sempre enfrentamos. Só com o “História” foram 18.000 cópias não só contra homofobia, mas falando de ateísmo (Vinde a Mim), contra a luta partidária (Corvos do Paraíso), contra a opressão do sistema de trabalho (Carro Bomba) e celebrando a vida, o amor e os bons sentimentos humanos.  A verdade é que o pessoal aqui sempre foi muito cabeça fechada, tanto que dezenas de bandas de rock ogro continuam a fazer a cabeça da molecada e a galera “acha o maior barato”. O povo daqui também não entendeu a “fase The Damned” da banda em 2005, com o Lírios Aos Anjos, acho que tudo isso gerou essa coisa toda idiota do preconceito com a banda.




2 - Você acha que as coisas mudaram desde essa época do “História” até hoje, nesse sentido?


Nenê Altro – Às vezes acho que está melhor, às vezes acho que pior... está uma fase bem estranha. Em 2001 o link com o punk, com a essência da coisa toda, era muito forte... A galera fazia música pra se expressar, independente do estilo, independente de sua música ser influenciada por Conflict ou por Mineral, o importante era por pra fora as coisas que gritavam no peito. Hoje tem isso ainda, mas acho que tem dois fatores bem perigosos, um que, por um lado, muita gente que está no meio não faz nem ideia de como a coisa começou, não quer nada além de sucesso a qualquer custo e essas coisas, e o outro que existe uma tolerância com a burrice e a ignorância que deixa cada vez mais atitudes preconceituosas, homofóbicas, nacionalistas e religiosas passarem batido, pois “agora as coisas são assim”. Não gosto disso, não foi com isso que me envolvi e luto para mostrar que a gente não faz parte dessa merda aí, que temos sim posturas claras e que fazemos parte do punk, da cultura combatente que nos levou a montar uma banda, antes mesmo de estarmos juntos no Dance of Days.


3 - Você citou essa “fase The Damned” de 2005, do Lírios Aos Anjos. Porque você acha que ela foi tão mal compreendida?

Nenê Altro – Nessa mesma época o “emo” estava estourando por aqui, não a coisa que acompanhamos no início do Dance of Days em 1996 com o Revolution Summer de Washington dos anos 80 e muito menos a cena que veio na nossa época com a JadeTree, a Initial, a Doghouse, mas a das bandas estereotipadas de franja que infestaram as rádios brasileiras em 2004-2005, dessa cena do olho pintado, do Good Charlotte e essa parada toda aí que se convencionou chamar de “emocore” por aqui.E por mais que eu usasse só as camisetas das bandas góticas que eu mais amava desde a adolescência (é só olhar o encarte do Valsa!), do Bauhaus, do Neubauten, do Sisters,  ou todas as camisetas do The Cult que eu tinha no armário, se as pessoas não tinham o link com o punk, imagine com o pós punk! Elas sequer sabiam quem era Ian Astbury!E a geração mais velha, que sabia, não se misturava com essa nova. Então acabaram achando que era tudo a mesma coisa. Chegou uma hora que cansamos de explicar e mandamos todos à merda. Sempre soubemos o que fazíamos e até hoje sabemos o que somos, isso é o que mais importa.


4 - Nenê, lembro do seu projeto Awkward. Fui num show que era na Rua Pamplona, junto com Dominatrix, Paura e outras bandas. Não sabia quem era você, mal tinha ouvido falar de Personal Choice , porém lembro de todos falando “é a banda nova do Nenê Altro”. Devia ser 1997, 98... Não sei ao certo... Aquele show me marcou, porque via que vocês erravam quase todas as músicas, e eu achava aquilo incrível! Você lembra desse dia? O que o Awkward significou pra você e o que ficou de legado da banda?
Nenê Altro –Lembro sim, foi em 31 de Janeiro de 1999. Acho que foi nosso primeiro show, com Dominatrix, Paura, Sight For Sore Eyes e Extremo. Na verdade não era que errávamos tudo, era que estávamos bem indecisos quanto a sequência das músicas e nervosos por ser o primeiro show rsrsrs Enfim, se você pegar as músicas ao vivo que estão no fim daquele cd 1997/1998 do Dance of Days, você consegue entender a praia que eu estava quando o Dance deu aquele break e eu formei o Awkward com essa galera. Gostávamos de Elliot, Texas Is The Reason, Mineral... Foi uma banda muito boa, e era um momento muito mágico na cena hardcore, onde todo mundo estava descobrindo novas bandas e cenas. Muita gente que estava nesse show da Pamplona formou bandas depois, como Out of Season e Anyone. Bandas que foram muito boas e presentes na época... Estou tentando forçar a cabeça aqui, mas acho que a história foi a seguinte, com o break do Dance of Days eu formei o Bastard In Love, com a galera que era do Default e do Pudding Lane. Quando o Bastard In Love acabou, eu montei o Awkward com o guitarra do Bastard In Love e a galera que vinha do Landscape, Extremo e Supermarket e o restante do Bastard In Love montou o Hurtmold, que está aí até hoje. O Bastard In Love chegou a gravar bastante coisa, tínhamos uma demo, duas músicas na coletânea “Something. Nothing. Everything.” (inclusive uma chamada Crutch que alguns anos depois virou “Muletas” no Sick Terror), uma faixa no Tributo Ao Olho Seco lançado aqui em cd pela Red Star e lá fora em LP pela HöhNIE Records e um split ep em vinil lançado nos EUA pela Moo Cow Records, com a banda Cameran.


 Do Awkward, infelizmente, só ficou registrada a música Candle Light Tears (que falava sobre os desaparecidos políticos da ditadura) na coletânea “The FireBeneath The Machine”, que eu lancei pela Teenager In a Box, que também tinha At The Drive-In, Silver Scooter, SevenStorey Mountain e uma porção de bandas que faziam parte da mesma cena e que se correspondiam na época via carta. Com o fim do Awkward eu formei o Sick Terror e, logo na sequência, voltei com o Dance of Days, já com o embrião da formação que está até hoje. No Sick Terror fiquei até 2004, em paralelo com o Dance. É mais ou menos isso aí rsrsrs
(obs: o show que citei, que eu estava presente, está disponível no youtube, incrível rever isso!!!!)




5 - Ainda falando de suas outras bandas, vi também o Nenê Altro & O Mal de Caim pouco antes da banda acabar, no projeto Rock na Vitrine, lá na Galeria Olido, idealizado pelo Luiz Calanca da seminal loja Baratos e Afins. Aquele foi o último show? Há intenção de voltar com a banda ou você nem pensa nisso?
Nenê Altro –Acho que teve mais um show depois disso, na Livraria Da Esquina... Bom, o Mal foi uma banda que gostei muito do início ao fim, que tocou muito, que lançou um cd bem legal de death rock (EuremaElathea), e que ia lançar um dos cds que mais fazem falta em minha discografia pessoal, pois representava musicalmente todo fim do ciclo de vida que detalhei em meu segundo livro, “O Diabo Sempre Vem Pra Mais Um Drink”, que, aliás, seria também o nome do disco do Mal (a ideia era lançar na mesma época). 



 A Pisces ainda pensa em lançar esse cd, o que eu ia achar bem legal pra não ficar com essa lacuna na minha carreira, mas voltar com a banda não rola, pois as coisas dizem o que tem que dizer na época que gritam em seu peito, e não faz mais sentido pra mim cantar tanta tristeza. Os caras seguiram com suas bandas e eu segui com as minhas, cada um com suas histórias e conquistas. Poderia ter sido uma história bem maior, mas o momento se perdeu... 



6–Você citou o Sick Terror, não poderia deixar de perguntar, conte como foi essa experiência de “cadeia na Finlândia” em tour com a banda rsrsrs


Nenê Altro –Há exatos 10 anos atrás,em 2002, eu e o Marcelo Verardi estávamos em tour pela Finlândia com nossa antiga banda, o Sick Terror, fazendo alguns shows com o RIISTETYT. Estávamos em um grande mercado e o Verardi não falava uma palavra sequer de inglês. Lá, nessa época, já tinha muito essa cultura que hoje é comum aqui, de cards gratuitos de papel por todos os lugares, com datas de show, lançamentos de discos e etc. Mas na época, pra gente, era bem novidade. E o Marcelo acabou pegando uns postais dentro desse hipermercado achando que também eram “free”. Em menos de 2 minutos eu escuto ele chamar em português e vejo ele ser arrastado por dois brutamontes. É claro que, diferente do resto da galera que saiu rapidamente do mercado e passou a noite bebendo na discoteca, eu não ia deixar meu amigo pra trás. Cheguei lá dizendo que ia traduzir ele pra ajudar e ficamos numa sala com um guarda cheio de tattoos nazis que toda vez que estava sozinho com a gente falava um monte de merda contra latinos. Assim que a delegada chegou, dissemos que estávamos lá apenas para fazer alguns shows. Ela pediu o nome de um responsável e dissemos o nome do saudoso Nappi do Riistetyt e ela respondeu “- Isso não é nome de gente, é de cachorro!” rsrsrs No final ela conseguiu falar com alguém do clube onde iríamos tocar para verificar a história, mas estava tarde demais pra liberar a gente, pois o oficial já havia ido embora para casa. Eu fui me despedir do Marcelo dizendo que ia ficar na delegacia esperando por ele até ele ser solto e a delegada me disse “- Espere um momento, quanto dinheiro você tem no bolso?”. Eu, punk, sem tomar banho há alguns dias e em tour pela europa, achei que estava cheio da grana e disse, “- Ah, tenho bastante até, uns 50 euros”hahahaha E ela disse, “-Você não tem dinheiro suficiente para ficar na Finlândia” e mandou os guardas removerem a mim e ao Marcelo. Passamos a noite numa cadeia, em celas separadas, sem ninguém falar uma palavra em inglês com a gente e sendo acordados de meia em meia hora. Logo pela manhã o Perttu do Riistetyt apareceu bêbado pra buscar a gente e disse que chamaram o oficial pelo auto-falante que havia um “jovem cheirando a Búfalo” que queria soltar os brasileiros. Assinamos os papéis e fomos fichados, o Marcelo como ladrão e eu como indigente. No final da tour o camburão da polícia foi nos buscar no local combinado e nos levou para Helsinki pra garantir mesmo que iríamos entrar no avião rsrsrs É legal mencionar que nessa tour o RIISTETERROR (banda que era metade Sick Terror metade Riistetyt) se reuniu pela última vez em Tampere para gravar o ep ASEMA Z  e que originalmente esse epse chamaria POSTIKORTTI HARDCORE, ou seja “cartão postal hardcore” devido ao incidente do mercado hahaha. Nesse epque gravamos contamos com a participação do lendário Jakke, vocalista do KAAOS, cantando na música Sota OnTulossa (cover do próprio Kaaos), que acabou sendo seu último registro em vida.


7 – E quanto ao Dance of Days? Agora com a saída do Tyello da banda, como as coisas vão ficar? Quais os próximos passos?

Nenê Altro – O Tyello fez e sempre fará parte da história da banda, pois esteve 12 anos no Dance of Days. E a saída foi uma opção dele, que já estava cansado das coisas da estrada e quis se dedicar mais a seu estúdio. Respeitamos seu desejo e continuamos amigos. Decidimos continuar em 4 pessoas, seguindo a linha que sempre seguimos, de bandas como Avail, Ramones, 7 Seconds, Descendents, que sempre foram baixo, guitarra, bateria e vocal, e estamos felizes com isso. Os shows tem sido bons, fortes, e acho que essa atitude de mantermos a banda como está teve mais a ver com nossa história e proposta do que colocar um elemento a mais que, acima de se entrosar com a música teria que ter um entrosamento pessoal “do nada” com a gente que jamais conseguiria ter, pois nossa amizade ultrapassa uma década. E os fãs da banda curtiram muito isso, termos ficado só nós quatro. Agora vamos preparar um disco novo, sem pressa, mas com a ideia de sair no primeiro semestre de 2013. E vamos ficar na estrada, cada vez mais, pois não vivemos sem isso.

8 - Pela sua trajetória de vida no meio punk-underground, dá pra perceber nitidamente que você é um profundo incentivador da cultura de fanzines, não só incentivador, como também faz palestras sobre o tema e edita o Pest Zine com 5000 cópias distribuídas gratuitamente, o que contraria a ideia daqueles que diziam que com a massificação da internet os zines impressos morreriam... Porque, nos dias de hoje, em épocas de facebook e twitter, você ainda defende essa bandeira?

Nenê Altro –Eu parto do princípio que cada zine é uma obra de arte, uma forma autêntica de expressão.  É muito diferente uma pessoa escrever um bom artigo em um blog ou um post bem elaborado em uma rede social do ato de ela parar, colocar tudo de si em uma folha de papel, recortar, colar, montar sua expressão com as próprias mãos, com a sua personalidade, xerocar e passar adiante. Um zine chega em suas mãos como uma boa música, como um bom filme. Eu não sou contra a internet e os blogs, como muitos erroneamente me interpretaram, só acho que uma coisa é ser e ter um instrumento de comunicação ágil e rápido e outra é fazer arte. E essa arte pode ser pessoal, política, poética... E, o mais importante, não tem censura.  O que eu sou contra é as pessoas falarem que o zine evoluiu para a internet e que é coisa “ultrapassada”, “dos anos 80 e 90”, que “agora não tem sentido”. Sou contra essa postura, pois zine para mim é e sempre será uma expressão artística e dizer algo assim seria o mesmo que dizer que “pintar quadros não faz sentido” agora que temos a fotografia digital e o Photoshop. Sou um amante das artes como forma de expressão, pois nelas eu vejo o humano do ser que caminha sobre esse planeta. E se eu não acreditasse na força viva que traz brilho aos olhos desse ser humano, toda minha luta por liberdade social não faria sentido algum.

9 - Falando em zines, me remeteu aos seus livros. De todos os livros que já li, seja de literatura dita “marginal” até medalhões da literatura mundial, eu realmente nunca consegui sentir tanta carga emotiva, confessional e pessoal em outros livros como senti nos seus escritos. Pra você, escrever, seja em livros ou letras para suas bandas, é uma espécie de “exorcismo”, de “por pra fora tudo o que grita no peito” ?

Nenê Altro –Sim, eu sempre digo que faço música e escrevo por necessidade biológica, porque meu corpo grita por isso. Acho que deve ser muito frustrante alguém escrever para “ser escritor”, tentar deixar palavras numa ordem “bonita” para “ser poeta” ou seguir um caminho determinado para “ser músico”. Eu não sou escritor, não sou poeta e muito menos músico. Minha profissão é de agitador cultural e organizador de eventos. Se um dia eu transformasse minha arte numa fórmula eu perderia a sensação libertadora que ela me traz, que é o que me mantém vivo e me permite respirar. Essa fase ruim que eu passei em minha vida... eu teria enlouquecido se não tivesse colocado pra fora nos Funerais do Coelho Branco, no Eurema Elathea, no 43 Segundos, no Lírios Aos Anjos. A música, a poesia, os desabafos, sempre foram minhas válvulas de escape. E não me interpretem mal, eu não sou contra escritores, poetas e músicos, apenas não sou nada disso. Sou só um garoto imbecil a se repetir rsrsrs

10 - Recentemente o CRASS mudou muito sua postura e chegou inclusive a remover as suas músicas de sites de download gratuito. Como você viu isso, sendo que é tão fã da banda?
Nenê Altro – Minha história com o CRASS data do final dos anos 80, época em que me envolvi com o anarco-punk.  20 anos depois, em 2009, resolvi fazer a tattoo da banda no antebraço, pois, independente do que os membros se tornaram hoje ou do rumo que seguiram em suas vidas individuais, a atividade que tiveram nos anos gloriosos da banda foi uma influência fundamental em minha vida. Não me arrependo, faria a tattoo novamente, pra mim o CRASS fugiu ao controle do que os membros possam fazer ou deixar de fazer após o final da banda, sua história é propriedade da própria história do punk e é a isso que me marquei. Não concordo, é claro, com essas coisas que aconteceram recentemente, mas, desde a entrevista que saiu na Vice deu pra ver que a coisa já caminhava para esse lado. O que fica foi o que marcou na vida de cada pessoa influenciada por seu trabalho original, os bons discos, as boas atitudes e tudo o que foi irreversivelmente construído na vida das pessoas que tiveram contato com essa essência. Acho que esse é o verdadeiro papel de fã mesmo de um trabalho como esse, gostar da banda pelo que ela te oferece e não esperar que seja mais do que é.

11 - E por falar em fãs, sua vida pessoal sempre foi exposta, aberta, e vi nos últimos anos pela net que muita gente te criticou por mudar essa postura, por querer ter uma vida mais reservada, e disseram que isso não deveria mudar suas atitudes “como músico”. O que pensa disso?

Nenê Altro –Quem acha que minha vida pessoal não vai mudar minhas atitudes no Dance of Days jamais entendeu a proposta da banda. Não somos uma banda profissional. Somos amigos querendo se divertir e eu, desde o começo, uso a banda como forma PESSOAL de expressão. As pessoas dão mancada comigo, falam mal das minhas coisas por aí, me xingam em comunidades e esperam que eu tenha “atitudes profissionais como músico” com elas. Estas realmente nunca entenderam ou sequer fizeram parte de tudo isso que essa conexão significa. Nunca fomos profissionais, nunca seremos profissionais, somos vivos e somos gente, carne, osso e sentimentos, e tudo o que somos é o que move a nossa arte.


12 - Acho que você já deixou claro sua posição quanto a opiniões várias vezes, não só nas músicas quanto nos livros rsrsrs

Nenê Altro –Exato. Se eu fosse mover meus dias de acordo com as opiniões das outras pessoas eu estava fodido! Ninguém JAMAIS está satisfeito com nada e, quando as pessoas te julgam por algo pode ter certeza que tem razões 100% pessoais para isso, ou seja, que te apontam o dedo movidos por suas próprias dificuldades em lidar com mudanças, por suas expectativas auto-sugeridas e etc. Eu vivo minha vida com sede, com sede de vida e essa sede só pode ser sanada por minha boca, não pela dos outros. Não sou artista, sou só alguém como todo mundo, que “gosta de falar e abraçar os amigos”, só tenho uma banda e, da mesma maneira que as pessoas gostam de minha banda eu gosto do 7 Secondsdesde moleque e nem por isso me importo com a vida pessoal do Kevin, só com a sensação boa e única que ouvir uma banda que fala com meu coração, um “walktogether rock together” bem alto, me traz.

13 - As pessoas sempre vão falar né?

Nenê Altro – Sim, e perdendo tempo falando elas deixam de viver.

14 - Pra ir encerrando, sobre a Teenager in a Box, as bandas e coletâneas que você lançou, do início até hoje, de At The Drive-in a No Class e Deserdados, deve dar uma puta satisfação olhar pra trás e ver tudo o que você já construiu com esse projeto, né? O que podemos esperar para o futuro? Novos lançamentos?

Nenê Altro –Sim, a Teenager In a Box sempre foi a menina de meus olhos, minha Dischord particular. Ficou parada um tempo porque, se for pensar bem, eu também fiquei parado um tempo, por mais que lançasse um ou outro disco com minhas bandas nesse período...  Quando a Nicolle entrou em minha vida e batalhou a meu lado dia após dia por minha recuperação, nas longas caminhadas que tínhamos pela praia eu sempre falava pra ela da Teenager, das coisas legais que tinha feito e que queria voltar a fazer. Sabe, o “WantSomething” do No Class, foi um cd todo artesanal, a capa foi uma obra de arte do Tomas Spicolli que fizemos virar envelopinho, com todo cuidado, o encarte é um zininho, é uma obra de arte saca? E eu falava pra ela que queria fazer isso, queria dar voz a mais um Ludovic e abrir caminhos pra mais um Jair Naves. E isso foi fundamental em meu retorno, tanto que voltamos com o selo como uma “empresa familiar” rsrsrs A Nicolle é tão ativa hoje quanto eu e fazemos muitas coisas pelo selo, muitos planos, celebramos conquistas... A Teenager está licenciando para a Pisces a discografia inteira do Dance of Days que está saindo aos poucos, vamos lançar mais um livro, com várias passagens de entrevistas que dei desde 1997, que a Nicolle está separando por assunto e época... Inclusive essa resposta aqui deve ir pra parte em que falo da Teenager rsrsrs

15 - Jogo rápido:

AMIZADE - Amigos são os que estão ao seu lado e te apoiam, que te aceitam como você é, independente de suas escolhas pessoais.Os que não vêmsó pra prestar solidariedade quando você está na merda mas que comemoram suas conquistas dia após dia.

ESTANTE DE LIVROS – Anarquismo, poesia, rock, mitologia.

PERFORMANCE DE PALCO – Vai da época, vai da fase, como eu disse, minha arte é pessoal e não posso me demonstrar feliz estando triste ou fazer pose de deprimido quando estou adorando a minha vida. O jeito que sou no palco reflete o que sou em meu dia a dia.

ESTRADA – Vida. Gravar é bom, mas rock se faz ao vivo.

CINEMA – Político, punk, alemão.

CRÍTICAS – Não existem críticas construtivas, apenas gente ruim buscando momentos para expressar sua maldade. Se um trabalho ou obra artística não te agrada faça o seu, pois há lugar no mundo para todos. Perder tanto tempo assim preocupado em falar sobre o trabalho dos outros é atestado de incapacidade de fazer algo melhor.

FAMÍLIA – Todos aqueles que te fazem bem e que você tem prazer em manter por perto. E estes nem sempre são os seus parentes.

FILHOS – Orientar, escutar, conversar, defender, mas, acima de tudo, deixar viver.

CAFÉ – Bebo muito. Todos os dias. E meus amigos também rsrsrs

16- Obrigado Nenê pela atenção e por sempre apoiar o fanzine Meus Amigos bebem Muito Café! Conte conosco e apareça pra um café! =)
Nenê Altro –Eu que agradeço Luis! Para quem quiser saber mais dos projetos da Teenager In a Box é só acessar o blog teenagerinabox.wordpress.com e para acompanhar a agenda do Dance of Days é só acessar www.danceofdays.com.br  ok? Força sempre!

5 comentários:

  1. Muito foda a entrevista, grande Nene Altro, o cara que mudou a dança dos meus dias, é sempre bom conhecer cada vez mais um cara que me ajudou muito mesmo nem sabendo quem eu sou, e que nos tras um chama que grita no peito dizendo " vai voce consegue" . Parabems pela entrevista.

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  2. Grande Luisinh, parabéns excelentes perguntas e o Nênê bem sincero, parabéns

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    1. valei pela força que sempre dá aos projetos aqui, geo!

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  3. Excelente entrevista! tocou em bons pontos que quase não são falados

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