O elitismo, no qual
me refiro, perdura até hoje, isto é fato. No entanto é inegável também que o
acesso às artes mais clássicas e caras do universo é bem mais amplo e outros
tipos de arte ( embora muitas vezes relegadas ao segundo plano e tidas como
“inferiores” àquelas que permeiam grandes galerias) coexistem.
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a arte de BANKSY |
Precisamente, me
refiro ao graffitti,que enquanto arte sim, dividiu espaço com outras obras
“clássicas” ou mais convencionais, digamos assim, mas que, muito embora seja hoje
vista com uma visão mais aceitável perante setores da sociedade que outrora condenavam todo e qualquer grafite como “crime”, ainda é visto com certa
desconfiança.
A arte é pesada, e
pode ser feita do povo, para o povo e alheio à elite. A arte é punk e underground,
e pode ser exposta na maior galeria ao ar livre do universo: as ruas.
A arte pode incitar
mudanças, questionar leis injustas, dogmas e levar à reflexão. Tudo isso, o
anônimo Banksy faz como poucos. Tido como gênio para muitos e só mais um para tantos,
a verdade que a incógnita sobre sua identidade real e sua arte que aponta o
dedo na cara das autoridades, desafiando a tudo e a todos, ganhou projeções
inimagináveis. É bem provável que até aquele moleque fã de funk proibidão ,que mora perto da sua goma e só usa internet pra marcar uma
ponta com as gurias no batidão ,ouvir
funk escroto e comprar camiseta hollister
já deva ter ouvido falar do Banksy, ou já viu algum stencil do cara jogado
na net com aquelas frases feitas de facebook.
E temos que concordar,
o talento e ousadia de Banksy, fazem jus ao hype em torno de seu nome, mas não
fica preso a ele como uma moda descartável. Uma arte de cunho social e
provocadora, como a que ele faz, deixará de legado o protesto, puro e simples,
como aquele do movimento punk que resistiu modas, tendências e tudo mais.
Movimento, aliás, que dialoga de maneira muito próxima com a arte de Banksy.
O livro “Guerra e
Spray”, da editora Intrínseca, oferece em mais de 200 páginas um apanhado dos
trabalhos feitos por este ativista das latas de tintas. Da ironia ao Copyrigth
logo ao abrirmos o livro, à analogia dos ratos ( talvez uma referência ao
artista que o inspirou, Blek Le Rat),
e a verdadeira face da hipocrisia exposta no stencil de um defensor da moral e
bons costumes dando uma “cheirada” ,
este livro soa como um alerta e inspiração.
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trabalhos de BLEK LE RAT, apontado como influencia de Banksy |
Afinal, “vocês
podem rir agora, mas um dia, estaremos no comando”, diz um dos trechos do
livro, que apresenta pequenos textos e histórias acerca das imagens e diversas
fotos que constam na obra. Essencial para admiradores de arte, arte de rua,
stencil, graffitti, punks, skatistas, movimento hip-hop e cabeças pensantes.
BANKSY na minha
concepção têm algo de boca do inferno
(Gregório de Matos) ao satirizar aquilo que nos condicionaram “respeitar” e
“aceitar” como verdades únicas, como autoridades inquestionáveis. BANKSY faz
poesia maldita e pinta com simplicidade, aquilo que todos vemos, sabemos e
fingimos não saber, porque pega mal.
“Quando chegar a hora de partir, apenas saia andando
calmamente e não faça confusão”. (Banksy)