Desde que comecei a fazer fanzines lá pelos idos dos anos 90, sempre tive vontade de entrevistar e trocar uma ideia para publicar em zines com duas pessoas. Uma foi o Redson do Cólera, até tentei por carta na época, mas acho que sequer chegou até ele.A Outra é o Nenê. Segue na íntegra histórias curiosas como a treta da turnê gringa do Sick terror, o futuro do Dance of Days e curiosidades que só quem está há tanto tempo na estrada e tem bagagem do que é a essência do faça você mesmo pode compartilhar.
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Dance of Days, época de "a história não tem fim" |
1 – O Dance of Days sempre
foi uma banda que falou de visões
pessoais e políticas, mas, ainda assim, muita gente teve e tem preconceito com o
trabalho de vocês. Ao que você acha que isso se deve?
Nenê
Altro –Em
2001 lançamos um disco em português, nadando contra toda a corrente de 90% das
bandas de nossa geração. O disco abria com uma música contra homofobia chamada Se Essas Paredes Falassem e vendeu
18.000 cópias defendendo “um outro lugar
onde marte ama marte e vênus possa passear de mãos dadas com vênus”. Esse
foi um choque numa cena que, por mais que se afirmasse “moderna” ainda tinha muito de moralista e, principalmente,
homofóbica. E nós abraçamos essa luta colocando a cara pra bater, de que a
pessoa não tem que ser homossexual pra ser contra a homofobia, que pode ser
branca e ser contra o racismo, que a luta contra o preconceito era e é uma luta
de todos. E pensamos isso até hoje. Mas isso, na época, gerou o estigma entre a
galera que se sentiu ofendida com essa postura. Mas enfrentamos. Sempre
enfrentamos. Só com o “História” foram
18.000 cópias não só contra homofobia, mas falando de ateísmo (Vinde a Mim),
contra a luta partidária (Corvos do Paraíso), contra a opressão do sistema de
trabalho (Carro Bomba) e celebrando a vida, o amor e os bons sentimentos
humanos. A verdade é que o pessoal aqui
sempre foi muito cabeça fechada, tanto que dezenas de bandas de rock ogro
continuam a fazer a cabeça da molecada e a galera “acha o maior barato”. O povo daqui também não entendeu a “fase The Damned” da banda em 2005, com
o Lírios Aos Anjos, acho que tudo isso gerou essa coisa toda idiota do
preconceito com a banda.

2 - Você acha que as coisas mudaram
desde essa época do “História” até hoje, nesse sentido?
Nenê Altro – Às vezes acho que está
melhor, às vezes acho que pior... está uma fase bem estranha. Em 2001 o link
com o punk, com a essência da coisa toda, era muito forte... A galera fazia
música pra se expressar, independente do estilo, independente de sua música ser
influenciada por Conflict ou por Mineral, o importante era por pra fora as
coisas que gritavam no peito. Hoje tem isso ainda, mas acho que tem dois
fatores bem perigosos, um que, por um lado, muita gente que está no meio não
faz nem ideia de como a coisa começou, não quer nada além de sucesso a qualquer
custo e essas coisas, e o outro que existe uma tolerância com a burrice e a
ignorância que deixa cada vez mais atitudes preconceituosas, homofóbicas,
nacionalistas e religiosas passarem batido, pois “agora as coisas são assim”. Não gosto disso, não foi com isso que
me envolvi e luto para mostrar que a gente não faz parte dessa merda aí, que
temos sim posturas claras e que fazemos parte do punk, da cultura combatente
que nos levou a montar uma banda, antes mesmo de estarmos juntos no Dance of
Days.
3 - Você citou essa
“fase The Damned” de 2005, do Lírios Aos Anjos. Porque você acha que ela foi
tão mal compreendida?
Nenê Altro – Nessa mesma época o “emo” estava estourando por aqui, não a
coisa que acompanhamos no início do Dance of Days em 1996 com o Revolution
Summer de Washington dos anos 80 e muito menos a cena que veio na nossa época
com a JadeTree, a Initial, a Doghouse, mas a das bandas estereotipadas de
franja que infestaram as rádios brasileiras em 2004-2005, dessa cena do olho
pintado, do Good Charlotte e essa parada toda aí que se convencionou chamar de “emocore” por aqui.E por mais que eu
usasse só as camisetas das bandas góticas que eu mais amava desde a
adolescência (é só olhar o encarte do Valsa!), do Bauhaus, do Neubauten, do
Sisters, ou todas as camisetas do The
Cult que eu tinha no armário, se as pessoas não tinham o link com o punk,
imagine com o pós punk! Elas sequer sabiam quem era Ian Astbury!E a geração
mais velha, que sabia, não se misturava com essa nova. Então acabaram achando
que era tudo a mesma coisa. Chegou uma hora que cansamos de explicar e mandamos
todos à merda. Sempre soubemos o que fazíamos e até hoje sabemos o que somos, isso
é o que mais importa.

4 - Nenê, lembro do
seu projeto Awkward. Fui num show que era na Rua Pamplona, junto com
Dominatrix, Paura e outras bandas. Não sabia quem era você, mal tinha ouvido
falar de Personal Choice , porém lembro de todos falando “é a banda nova do Nenê
Altro”. Devia ser 1997, 98... Não sei ao certo... Aquele show me marcou, porque
via que vocês erravam quase todas as músicas, e eu achava aquilo incrível! Você
lembra desse dia? O que o Awkward significou pra você e o que ficou de legado
da banda?
Nenê Altro –Lembro
sim, foi em 31 de Janeiro de 1999. Acho que foi nosso primeiro show, com
Dominatrix, Paura, Sight For Sore Eyes e Extremo. Na verdade não era que
errávamos tudo, era que estávamos bem indecisos quanto a sequência das músicas e
nervosos por ser o primeiro show rsrsrs Enfim, se você
pegar as músicas ao vivo que estão no fim daquele cd 1997/1998 do Dance of
Days, você consegue entender a praia que eu estava quando o Dance deu aquele
break e eu formei o Awkward com essa galera. Gostávamos de Elliot, Texas Is The
Reason, Mineral... Foi uma banda muito boa, e era um momento muito mágico na
cena hardcore, onde todo mundo estava descobrindo novas bandas e cenas. Muita
gente que estava nesse show da Pamplona formou bandas depois, como Out of
Season e Anyone. Bandas que foram muito boas e presentes na época... Estou
tentando forçar a cabeça aqui, mas acho que a história foi a seguinte, com o
break do Dance of Days eu formei o Bastard In Love, com a galera que era do
Default e do Pudding Lane. Quando o Bastard In Love acabou, eu montei o Awkward
com o guitarra do Bastard In Love e a galera que vinha do Landscape, Extremo e
Supermarket e o restante do Bastard In Love montou o Hurtmold, que está aí até
hoje. O Bastard In Love chegou a gravar bastante coisa, tínhamos uma demo, duas
músicas na coletânea “Something. Nothing. Everything.” (inclusive uma chamada
Crutch que alguns anos depois virou “Muletas” no Sick Terror), uma faixa no
Tributo Ao Olho Seco lançado aqui em cd pela Red Star e lá fora em LP pela
HöhNIE Records e um split ep em vinil lançado nos EUA pela Moo Cow Records, com
a banda Cameran.
Do Awkward, infelizmente, só ficou registrada a música Candle
Light Tears (que falava sobre os desaparecidos políticos da ditadura) na
coletânea “The FireBeneath The Machine”, que eu lancei pela Teenager In a Box,
que também tinha At The Drive-In, Silver Scooter, SevenStorey Mountain e uma
porção de bandas que faziam parte da mesma cena e que se correspondiam na época
via carta. Com o fim do Awkward eu formei o Sick Terror e, logo na sequência,
voltei com o Dance of Days, já com o embrião da formação que está até hoje. No
Sick Terror fiquei até 2004, em paralelo com o Dance. É mais ou menos isso aí
rsrsrs
(obs: o show que citei, que eu estava presente, está disponível no youtube, incrível rever isso!!!!)
5 - Ainda falando de
suas outras bandas, vi também o Nenê Altro & O Mal de Caim pouco antes da
banda acabar, no projeto Rock na Vitrine, lá na Galeria Olido, idealizado pelo
Luiz Calanca da seminal loja Baratos e Afins. Aquele foi o último show? Há
intenção de voltar com a banda ou você nem pensa nisso?
Nenê
Altro –Acho
que teve mais um show depois disso, na Livraria Da Esquina... Bom, o Mal foi
uma banda que gostei muito do início ao fim, que tocou muito, que lançou um cd
bem legal de death rock (EuremaElathea), e que ia lançar um dos cds que mais
fazem falta em minha discografia pessoal, pois representava musicalmente todo
fim do ciclo de vida que detalhei em meu segundo livro, “O Diabo Sempre Vem Pra Mais Um Drink”, que, aliás, seria também o
nome do disco do Mal (a ideia era lançar na mesma época).
A Pisces ainda pensa em lançar esse cd, o que
eu ia achar bem legal pra não ficar com essa lacuna na minha carreira, mas
voltar com a banda não rola, pois as coisas dizem o que tem que dizer na época
que gritam em seu peito, e não faz mais sentido pra mim cantar tanta tristeza.
Os caras seguiram com suas bandas e eu segui com as minhas, cada um com suas
histórias e conquistas. Poderia ter sido uma história bem maior, mas o momento
se perdeu...
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6–Você citou o Sick Terror, não poderia deixar de perguntar, conte como foi
essa experiência de “cadeia na Finlândia” em tour com a banda rsrsrs
Nenê Altro –Há exatos 10 anos atrás,em
2002, eu e o Marcelo Verardi estávamos em tour pela Finlândia com nossa antiga
banda, o Sick Terror, fazendo alguns shows com o RIISTETYT. Estávamos em um
grande mercado e o Verardi não falava uma palavra sequer de inglês. Lá, nessa
época, já tinha muito essa cultura que hoje é comum aqui, de cards gratuitos de
papel por todos os lugares, com datas de show, lançamentos de discos e etc. Mas
na época, pra gente, era bem novidade. E o Marcelo acabou pegando uns postais
dentro desse hipermercado achando que também eram “free”. Em menos de 2 minutos eu escuto ele chamar em português e
vejo ele ser arrastado por dois brutamontes. É claro que, diferente do resto da
galera que saiu rapidamente do mercado e passou a noite bebendo na discoteca,
eu não ia deixar meu amigo pra trás. Cheguei lá dizendo que ia traduzir ele pra
ajudar e ficamos numa sala com um guarda cheio de tattoos nazis que toda vez
que estava sozinho com a gente falava um monte de merda contra latinos. Assim
que a delegada chegou, dissemos que estávamos lá apenas para fazer alguns
shows. Ela pediu o nome de um responsável e dissemos o nome do saudoso Nappi do
Riistetyt e ela respondeu “- Isso não é
nome de gente, é de cachorro!” rsrsrs No final ela conseguiu falar com
alguém do clube onde iríamos tocar para verificar a história, mas estava tarde
demais pra liberar a gente, pois o oficial já havia ido embora para casa. Eu
fui me despedir do Marcelo dizendo que ia ficar na delegacia esperando por ele
até ele ser solto e a delegada me disse “-
Espere um momento, quanto dinheiro você tem no bolso?”. Eu, punk, sem tomar
banho há alguns dias e em tour pela europa, achei que estava cheio da grana e
disse, “- Ah, tenho bastante até, uns 50
euros”hahahaha E ela disse, “-Você
não tem dinheiro suficiente para ficar na Finlândia” e mandou os guardas
removerem a mim e ao Marcelo. Passamos a noite numa cadeia, em celas separadas,
sem ninguém falar uma palavra em inglês com a gente e sendo acordados de meia
em meia hora. Logo pela manhã o Perttu do Riistetyt apareceu bêbado pra buscar
a gente e disse que chamaram o oficial pelo auto-falante que havia um “jovem cheirando a Búfalo” que queria
soltar os brasileiros. Assinamos os papéis e fomos fichados, o Marcelo como
ladrão e eu como indigente. No final da tour o camburão da polícia foi nos
buscar no local combinado e nos levou para Helsinki pra garantir mesmo que
iríamos entrar no avião rsrsrs É legal mencionar que nessa tour o RIISTETERROR (banda
que era metade Sick Terror metade Riistetyt) se reuniu pela última vez em
Tampere para gravar o ep ASEMA Z e que
originalmente esse epse chamaria POSTIKORTTI HARDCORE, ou seja “cartão postal hardcore” devido ao
incidente do mercado hahaha. Nesse epque gravamos contamos com a participação
do lendário Jakke, vocalista do KAAOS, cantando na música Sota OnTulossa (cover
do próprio Kaaos), que acabou sendo seu último registro em vida.

7 – E quanto ao Dance
of Days? Agora com a saída do Tyello da banda, como as coisas vão ficar? Quais
os próximos passos?
Nenê Altro – O Tyello fez e sempre
fará parte da história da banda, pois esteve 12 anos no Dance of Days. E a
saída foi uma opção dele, que já estava cansado das coisas da estrada e quis se
dedicar mais a seu estúdio. Respeitamos seu desejo e continuamos amigos.
Decidimos continuar em 4 pessoas, seguindo a linha que sempre seguimos, de
bandas como Avail, Ramones, 7 Seconds, Descendents, que sempre foram baixo,
guitarra, bateria e vocal, e estamos felizes com isso. Os shows tem sido bons,
fortes, e acho que essa atitude de mantermos a banda como está teve mais a ver
com nossa história e proposta do que colocar um elemento a mais que, acima de
se entrosar com a música teria que ter um entrosamento pessoal “do nada” com a
gente que jamais conseguiria ter, pois nossa amizade ultrapassa uma década. E
os fãs da banda curtiram muito isso, termos ficado só nós quatro. Agora vamos
preparar um disco novo, sem pressa, mas com a ideia de sair no primeiro
semestre de 2013. E vamos ficar na estrada, cada vez mais, pois não vivemos sem
isso.
8 - Pela sua trajetória de vida no meio
punk-underground, dá pra perceber nitidamente que você é um profundo
incentivador da cultura de fanzines, não só incentivador, como também faz
palestras sobre o tema e edita o Pest Zine com 5000 cópias distribuídas
gratuitamente, o que contraria a ideia daqueles que diziam que com a
massificação da internet os zines impressos morreriam... Porque, nos dias de
hoje, em épocas de facebook e twitter, você ainda defende essa bandeira?
Nenê Altro –Eu parto do princípio
que cada zine é uma obra de arte, uma forma autêntica de expressão. É muito diferente uma pessoa escrever um bom
artigo em um blog ou um post bem elaborado em uma rede social do ato de ela
parar, colocar tudo de si em uma folha de papel, recortar, colar, montar sua
expressão com as próprias mãos, com a sua personalidade, xerocar e passar
adiante. Um zine chega em suas mãos como uma boa música, como um bom filme. Eu
não sou contra a internet e os blogs, como muitos erroneamente me
interpretaram, só acho que uma coisa é ser e ter um instrumento de comunicação
ágil e rápido e outra é fazer arte. E essa arte pode ser pessoal, política,
poética... E, o mais importante, não tem censura. O que eu sou contra é as pessoas falarem que
o zine evoluiu para a internet e que é coisa “ultrapassada”, “dos anos 80 e
90”, que “agora não tem sentido”. Sou contra essa postura, pois zine para mim é
e sempre será uma expressão artística e dizer algo assim seria o mesmo que
dizer que “pintar quadros não faz sentido” agora que temos a fotografia digital
e o Photoshop. Sou um amante das artes como forma de expressão, pois nelas eu
vejo o humano do ser que caminha sobre esse planeta. E se eu não acreditasse na
força viva que traz brilho aos olhos desse ser humano, toda minha luta por
liberdade social não faria sentido algum.
9 - Falando em zines, me remeteu aos
seus livros. De todos os livros que já li, seja de literatura dita “marginal”
até medalhões da literatura mundial, eu realmente nunca consegui sentir tanta
carga emotiva, confessional e pessoal em outros livros como senti nos seus
escritos. Pra você, escrever, seja em livros ou letras para suas bandas, é uma espécie
de “exorcismo”, de “por pra fora tudo o que grita no peito” ?
Nenê Altro –Sim, eu sempre digo que
faço música e escrevo por necessidade biológica, porque meu corpo grita por
isso. Acho que deve ser muito frustrante alguém escrever para “ser escritor”,
tentar deixar palavras numa ordem “bonita” para “ser poeta” ou seguir um
caminho determinado para “ser músico”. Eu não sou escritor, não sou poeta e
muito menos músico. Minha profissão é de agitador cultural e organizador de
eventos. Se um dia eu transformasse minha arte numa fórmula eu perderia a
sensação libertadora que ela me traz, que é o que me mantém vivo e me permite
respirar. Essa fase ruim que eu passei em minha vida... eu teria enlouquecido
se não tivesse colocado pra fora nos Funerais do Coelho Branco, no Eurema Elathea,
no 43 Segundos, no Lírios Aos Anjos. A música, a poesia, os desabafos, sempre
foram minhas válvulas de escape. E não me interpretem mal, eu não sou contra
escritores, poetas e músicos, apenas não sou nada disso. Sou só um garoto
imbecil a se repetir rsrsrs
10 - Recentemente o CRASS mudou muito
sua postura e chegou inclusive a remover as suas músicas de sites de download
gratuito. Como você viu isso, sendo que é tão fã da banda?
Nenê
Altro –
Minha história com o CRASS data do final dos anos 80, época em que me envolvi
com o anarco-punk. 20 anos depois, em
2009, resolvi fazer a tattoo da banda no antebraço, pois, independente do que
os membros se tornaram hoje ou do rumo que seguiram em suas vidas individuais,
a atividade que tiveram nos anos gloriosos da banda foi uma influência
fundamental em minha vida. Não me arrependo, faria a tattoo novamente, pra mim
o CRASS fugiu ao controle do que os membros possam fazer ou deixar de fazer
após o final da banda, sua história é propriedade da própria história do punk e
é a isso que me marquei. Não concordo, é claro, com essas coisas que
aconteceram recentemente, mas, desde a entrevista que saiu na Vice deu pra ver
que a coisa já caminhava para esse lado. O que fica foi o que marcou na vida de
cada pessoa influenciada por seu trabalho original, os bons discos, as boas
atitudes e tudo o que foi irreversivelmente construído na vida das pessoas que
tiveram contato com essa essência. Acho que esse é o verdadeiro papel de fã
mesmo de um trabalho como esse, gostar da banda pelo que ela te oferece e não
esperar que seja mais do que é.
11 - E por falar em fãs, sua vida
pessoal sempre foi exposta, aberta, e vi nos últimos anos pela net que muita
gente te criticou por mudar essa postura, por querer ter uma vida mais
reservada, e disseram que isso não deveria mudar suas atitudes “como músico”. O
que pensa disso?
Nenê Altro –Quem acha que minha vida
pessoal não vai mudar minhas atitudes no Dance of Days jamais entendeu a
proposta da banda. Não somos uma banda profissional. Somos amigos querendo se
divertir e eu, desde o começo, uso a banda como forma PESSOAL de expressão. As
pessoas dão mancada comigo, falam mal das minhas coisas por aí, me xingam em
comunidades e esperam que eu tenha “atitudes
profissionais como músico” com elas. Estas realmente nunca entenderam ou
sequer fizeram parte de tudo isso que essa conexão significa. Nunca fomos
profissionais, nunca seremos profissionais, somos vivos e somos gente, carne,
osso e sentimentos, e tudo o que somos é o que move a nossa arte.
12 - Acho que você já
deixou claro sua posição quanto a opiniões várias vezes, não só nas músicas
quanto nos livros rsrsrs
Nenê Altro –Exato. Se eu fosse mover
meus dias de acordo com as opiniões das outras pessoas eu estava fodido!
Ninguém JAMAIS está satisfeito com nada e, quando as pessoas te julgam por algo
pode ter certeza que tem razões 100% pessoais para isso, ou seja, que te apontam
o dedo movidos por suas próprias dificuldades em lidar com mudanças, por suas
expectativas auto-sugeridas e etc. Eu vivo minha vida com sede, com sede de
vida e essa sede só pode ser sanada por minha boca, não pela dos outros. Não
sou artista, sou só alguém como todo mundo, que “gosta de falar e abraçar os amigos”, só tenho uma banda e, da
mesma maneira que as pessoas gostam de minha banda eu gosto do 7 Secondsdesde
moleque e nem por isso me importo com a vida pessoal do Kevin, só com a
sensação boa e única que ouvir uma banda que fala com meu coração, um “walktogether rock together” bem alto,
me traz.
13 - As pessoas sempre vão falar né?
Nenê Altro – Sim, e perdendo tempo
falando elas deixam de viver.
14 - Pra ir encerrando, sobre a Teenager
in a Box, as bandas e coletâneas que você lançou, do início até hoje, de At The
Drive-in a No Class e Deserdados, deve dar uma puta satisfação olhar pra trás e
ver tudo o que você já construiu com esse projeto, né? O que podemos esperar
para o futuro? Novos lançamentos?
Nenê Altro –Sim, a Teenager In a Box
sempre foi a menina de meus olhos, minha Dischord particular. Ficou parada um
tempo porque, se for pensar bem, eu também fiquei parado um tempo, por mais que
lançasse um ou outro disco com minhas bandas nesse período... Quando a Nicolle entrou em minha vida e
batalhou a meu lado dia após dia por minha recuperação, nas longas caminhadas
que tínhamos pela praia eu sempre falava pra ela da Teenager, das coisas legais
que tinha feito e que queria voltar a fazer. Sabe, o “WantSomething” do No
Class, foi um cd todo artesanal, a capa foi uma obra de arte do Tomas Spicolli
que fizemos virar envelopinho, com todo cuidado, o encarte é um zininho, é uma
obra de arte saca? E eu falava pra ela que queria fazer isso, queria dar voz a
mais um Ludovic e abrir caminhos pra mais um Jair Naves. E isso foi fundamental
em meu retorno, tanto que voltamos com o selo como uma “empresa familiar”
rsrsrs A Nicolle é tão ativa hoje quanto eu e fazemos muitas coisas pelo selo,
muitos planos, celebramos conquistas... A Teenager está licenciando para a
Pisces a discografia inteira do Dance of Days que está saindo aos poucos, vamos
lançar mais um livro, com várias passagens de entrevistas que dei desde 1997,
que a Nicolle está separando por assunto e época... Inclusive essa resposta
aqui deve ir pra parte em que falo da Teenager rsrsrs
15 - Jogo rápido:
AMIZADE - Amigos são os que estão ao
seu lado e te apoiam, que te aceitam como você é, independente de suas escolhas
pessoais.Os que não vêmsó pra prestar solidariedade quando você está na merda
mas que comemoram suas conquistas dia após dia.
ESTANTE DE LIVROS – Anarquismo,
poesia, rock, mitologia.
PERFORMANCE DE PALCO – Vai da época,
vai da fase, como eu disse, minha arte é pessoal e não posso me demonstrar
feliz estando triste ou fazer pose de deprimido quando estou adorando a minha
vida. O jeito que sou no palco reflete o que sou em meu dia a dia.
ESTRADA – Vida. Gravar é bom, mas
rock se faz ao vivo.
CINEMA – Político, punk, alemão.
CRÍTICAS – Não existem críticas
construtivas, apenas gente ruim buscando momentos para expressar sua maldade.
Se um trabalho ou obra artística não te agrada faça o seu, pois há lugar no
mundo para todos. Perder tanto tempo assim preocupado em falar sobre o trabalho
dos outros é atestado de incapacidade de fazer algo melhor.
FAMÍLIA – Todos aqueles que te fazem
bem e que você tem prazer em manter por perto. E estes nem sempre são os seus
parentes.
FILHOS – Orientar, escutar,
conversar, defender, mas, acima de tudo, deixar viver.
CAFÉ – Bebo muito. Todos os dias. E
meus amigos também rsrsrs
16- Obrigado Nenê pela atenção e por
sempre apoiar o fanzine Meus Amigos bebem Muito Café! Conte conosco e apareça
pra um café! =)
Nenê Altro –Eu
que agradeço Luis! Para quem quiser saber mais dos projetos da Teenager In a
Box é só acessar o blog teenagerinabox.wordpress.com e para acompanhar a agenda
do Dance of Days é só acessar www.danceofdays.com.br ok? Força sempre!