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Não temos condições de responder a todos - entrada da expo. |
Foi uma manhã daquelas em que o primeiro gole de café você nem sente. E eu sei, estava mais amargo do que o habitual, talvez pelo fato dos últimos dias não significarem a mais perfeita tradução do que se convencionou chamar-se de doce.
E claro, sempre sem açúcar (é bom frisar). E o que isso tem a ver com a exposição “Não temos condições de responder a todos”? Bom, foi apenas para introduzir o tema e pra deixar claro o quanto representou pra eu colar lá no Sesc Consolação, em São Paulo, e logo de cara, me deparar com coisas que me dizem tanto, e que talvez eu tenha perdido um pouco com o tempo.
O mundo é outro, e a tecnologia hoje dita modos, padrões e comportamentos. Mas, ela não pode arrancar de dentro de nós, a essência.
Nostalgia? Talvez sim. E daí? Foda-se!
Num dia onde mais uma vez, me via socado dentro do ônibus e sendo esmagado por outras pessoas, onde uma certa angústia cinza batia no peito, e nem a cafeína me mostrava ao certo, qual direção seguir, logo após uma reunião improdutiva, segui rumo ao metrô para encontrar minha parceirinha, que me acompanharia para a exposição e bate papo com personagens ícones do underground /punk, como o Sesper, ( Garage Fuzz), o MZK, entre outros.
E desse bate papo, muita identificação, saudades e encanto pareciam retomar a alma deste jovem de 41 anos que aqui lhe escreve.
história! |
Um dos pontos altos da conversa foi o Sesper falando sobre as bandas virtuais que ele tinha, e sobre como o lo-fi exercia em nós, aquela magia do faça você mesmo.
Me lembrei das minhas bandas imaginárias, que faziam shows para ninguém no quintal da casa dos meus pais. Onde eu esmurrava as gaiolas do meu pai, fazendo-as de bateria. Ou então, quando compramos um rádio gravador, e eu montei minha big band virtual “Olho por Olho”, que só tinha eu na formação, mas eu desenhava os integrantes e gravava tudo que eu escrevia fazendo guitarra de boca e batucando em caixas de fita cassete. Depois, o som que era punk, ficou mais pesado ainda, com a aquisição de uma nova “guitarra”: um liquidificador.
Em um segundo, me veio tudo à mente. As cartas com selo com cola e com fitas k7’s dentro, e com fanzines e com dinheiro socado no papel carbono. O ódio do carteiro que jogava os pacotes logo na porta, fazendo um estrondo.
A magia de descobrir uma banda, de receber entrevistas, convites para shows e viagens. Os flyers com a carta escrita no verso.
Quem não viveu essa época, das fitas k7’s trocadas, das amizades via carta, e tantos outros detalhes mágicos que só a cena underground poderia nos promover, tem a chance de tentar entender um pouco disso ou ter uma noção, colando lá no Sesc.
Aliás, ter presenciado esse evento me fez voltar a escrever para o blog ( o que é um puta avanço, basta olhar a data da última postagem), e me motivou a reacender uma ideia que há tempos tenho flertado, mas que não coloquei em prática: retomar o fanzine.
E daí que ninguém se importa com um pedaço de papel xerocado? E daí que hoje em dia, o mundo acontece para muita gente , tão somente na tela dos Smartphones.
Se nunca, na história desse país, e em toda a minha vida, resistir e ser resistência, se fizeram tão necessários, que o zine seja, guardadas suas devidas proporções, a minha maneira de resistir.
Se eu sempre tive na escrita, uma forma de não enlouquecer, de vomitar o que me incomoda e de me sentir vivo, então assim será.
Voltando a expo: cartazes de shows, tapes, máquina de escrever, colagens, gravador responsável pelo registro de uma época inocente e tão sincera, estão tudo lá, ao nosso alcance, feito uma máquina do tempo. Quase chorei!
Confira o mini doc sobre a exposição no link. As imagens toscas eu mesmo tirei. Até logo e nunca se esqueça: cafeinadxs do mundo, uni-vos!
Mini documentário que faz parte da exposição "Não temos condições de responder a todos", em cartaz no Sesc Consolação de 25/01 a 05/03.
Entrevistas com Antonio Soares (Safari Hamburguers/White Frogs), Fabricio de Souza (Psychic Possessor/Garage Fuzz), Marcilio Dias (Psychic Possessor/Safari Hamburguers) e Mauricio "Boka" (Psychic Possessor/Ratos de Porão) contando suas experiencias com a troca de discos e fitas pelo correio, primeiras bandas, produção de fanzines e artes de disco entre 1988-1990.
Video por Alexandre Cruz, Lucas Cabu e Mateus Mondini.
Trilha sonora: O.V.E.C., Psychic Possessor, Safari Hamburguers e The Pessimists
Acervos: Alexandre Bonfim, Alexandre Cruz e Fabricio de Souza
Fotos Psychic Possessor e OVEC por Antonio Soares
2019
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Instagram: @ntcrt_
_PROGRAMAÇÃO INTEGRADA
Além do conteúdo expositivo, “Não Temos Condições de Responder a Todos” conta ainda com uma programação integrada diversificada, com oficinas criativas – para a confecção de material que remete à época - palestras e shows de bandas reconhecidas no cenário punk nacional e internacional.
SERVIÇO
EXPOSIÇÃO “NÃO TEMOS CONDIÇÕES DE RESPONDER A TODOS”
Com curadoria de Alexandre Cruz “Sesper”
Abertura: 24/1, quinta-feira, às 20h
Visitação: 25/1 a 5/3, de segunda a sexta, das 10h30 às 21h30; e aos sábados e feriados, das 10h30 às 18h30.
Local: Sesc Consolação | Área de Convivência
Ingressos: Grátis